COLLEGE | Por Lisboa? De novo?
Com as férias já em caminho, eis que surge uma nova etapa da minha vida: o primeiro estágio.
Estágio? Já? A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa merece todo e mais algum privilégio por alargar este tipo de oportunidades a alunos do primeiro ano. E eu sou, claramente, uma sortuda, por aqui ter chegado e por decidir que por aqui permaneço.
E que tipo de estágio? O que fazes? O estágio que estou a fazer é um estágio de enfermagem. O que significa que o nosso lugar, enquanto mini médicos, é ficar num determinado serviço de enfermagem que nos foi atribuído aleatoriamente e acompanhar as rotinas dos doentes. Tudo isto implica vestir uma bata à doutor (como se já fôssemos alguma coisita) e andarmos identificados com o cartão da faculdade no bolso da mesma. Somos uma espécie de sombra que anda atrás do ombro do enfermeiro A ou B. E, para já, não fazemos muito, a verdade é essa. Mas o não fazer não implica, de todo, a utilidade destes dias. E isso deu para concluir muito acerca do dia de hoje.
Hoje aprendi imensas coisas e sinto-me enriquecida, não sei explicar. O que recolhemos do ambiente da unidade, bem como dos próprios doentes, que possuem as suas próprias maneiras de dizer o que sentem.
Enfermagem é mesmo trabalho de equipa. E a boa relação entre os enfermeiros faz das unidades um lugar bem mais confortável e seguro. Disso não tenho dúvidas. Hoje vi profissionalismo, amizade e boa vontade. Paixão. Felicidade. E mesmo, lá nas olheiras visíveis dos que trocavam do turno da noite, via-se empenho e alguma espécie de sentimento de dever cumprido.
Acho que sou mesmo uma felizarda. Fiquei com dois enfermeiros super simpáticos e acessíveis. Que nos explicam as coisas de forma a que as entendamos mesmo e que são sinceros, sobretudo sinceros em relação às coisas boas da profissão, mas também das falhas que existem e que não podem ser ignoradas.
Os médicos vão e vêm, medem uma tensão aqui e tentam falar um pedacito com o doente, mas a verdade é que as horas do dia são longas e essas são passadas com os enfermeiros, auxiliares e com as máquinas. Inúmeras.
Ventiladores que tapam o olho azul a uma senhora que outrora respirou bem o ar puro dos Verões. Cateteres que cruzam os braços que outrora foram livres e pegaram no primeiro filho ao colo. Estes são alguns dos cenários que monto na minha cabeça, quando as máquinas apitam e enchem a sala de menos luz. Penso em quem foram, porque estão ali, como lá chegaram e para onde vão, se é que vão.
4 coisas que levo deste dia:
1. Hoje um doente chorou numa conversa que teve comigo e eu senti que queria chorar com ele. A emoção atacou-me de uma forma inesperada, mas só lhe disse que tudo era temporário e que ele tinha era mesmo de pensar naquela cama como uma coisa que ia desaparecer daqui a uns tempos. E ele, já com um brilhinho nos olhos: Pois é menina. Acho que foi mais forte que eu, na verdade.
2. Uma doente acordou e toda entubada começou a fazer a sua própria ginástica: abrir e fechar mãos, empurrar pés, uma autêntica festa! Só visto. As mulheres têm realmente a vontade de viver nelas!
3. Os médicos tiram sangue aos doentes. É verdade. Os enfermeiros, na unidade onde me encontro, não têm, de todo, essa função. E por isso, considere-se um mito que a função dos médicos não passa por estes biscates. (apesar de que sei de que em determinadas áreas, há mesmo médicos que se recusam a fazê-lo. vai consoante a vontade e a humildade de cada um)
4. Vi o banho de uma senhora e de um senhor e não me apoquentou. Tentei até ajudar no que podia e senti que desbloqueei um mini desafio que tinha dentro de mim.
Tinha que partilhar isto aqui. Sei que fico melhor quando o faço. E pode nem estar um texto muito bem elaborado, mas tinha que libertar alguns pensamentos deste dia num sítio onde fosse confortável fazê-lo. É claro que já entupi os meus pais com os pormenores mais caricatos do dia, mas aqui é diferente. Vocês sabem-no. Estou feliz.
Vou deixar este ano o secundário, estou a rezar para conseguir entrar na universidade no curso que quero e espero um dia ter pelo meu curso a paixão que tens pelo teu!
ResponderEliminarSenti a felicidade em cada uma das tuas palavras e fiquei também eu feliz por ti :)
ResponderEliminarParabéns por tudo Inês! Continua a aproveitar essas oportunidades :)
Gostei deste teu testemunho! Aproveita bem essa nova oportunidade, certamente irás aprender muito com o estágio!
ResponderEliminarBeijinho*
Boa :D boa sorte
ResponderEliminarÓhhhhh, que lindo Inês :))
ResponderEliminarSei bem o que é sentir isso, é tão bom quando fazemos o que gostamos! E muitas vezes quando se trata de lidar com pessoas, recebemos mais do que damos :)
Percebi agora que afinal estás em Medicina.
ResponderEliminarNão sabia de todo que faziam estágios em enfermagem!
Acho bastante importante isso! Mesmo!
Para assim se eliminarem alguns mitos (os médicos puncionam sim, geralmente em artérias e os enfermeiros em veias).
E enquanto estudante de enfermagem também tive agora o meu primeiro estágio em que era a sombra dos enfermeiros, mas fiz tanta coisa que nem me aguentava de pé ao final do dia. E formarem médicos com a consciência que o trabalho de equipa é importantíssimo, pondo fim aos azeites e comparações habituais, é um começo para que a coesão seja maior.
Um beijinho, Inês.