Did We Lose the Right to Say NO?


Foram os 19. De certeza que a culpa foi dos 19. Neste último ano de vida que passou por mim, muitas foram as coisas que, de repente, me começaram - muito disfarçada e suavemente - a ser exigidas pela sociedade. 

Este foi um início um bocado sério demais não foi? Mas a verdade é que aquilo que hoje vos quero falar é também sério, à sua maneira. Hoje, falo-vos de reações, mas sobretudo de mentalidades.  






Fazendo-vos uma breve revisão sobre mim, eu sempre fui a miúda "livre", aquela miúda intitulada de "complicada" (pelos amigos mais próximos) que não dá hipótese ao pobre coitado que lhe apareça à frente. Sempre fui a amiga conselheira, a amiga que diz "vai, faz" ou então a amiga do consolo, merecedora de entrar no Guinness pelas vezes que disse "ele não te merece, segue em frente!". É verdade. Quase que dava para escrever um livro. Já estou a imaginar uns títulos de autoajuda bem criativos. 

Mas bem... que a miúda era chatinha, lá isso era verdade. Ainda assim, os títulos "complicada" e "impossível" eram pesados de carregar. E a verdade é que tive alguns namorados. E gostei, de facto, de alguns. Como é natural que aconteça com qualquer ser humano. Am I right?

Mas... ao entrar nos 19, sem paixonetas, nem namorado para apresentar ao mundo, algo mudou. 

Começou pela entoação das perguntas das fofoqueiras do costume. Então e tu, Inês? Alguma coisa que tenhas para nos contar? Queres-nos falar de alguém especial? Não. Lamento, mas não tenho mesmo nada para vos dizer. E eu notava alguma reação quase que em jeito de um A sério? que não era dito. E esta resposta, dada umas quantas vezes, fazia-me sentir desconfortável, por algum motivo que nem eu própria conhecia. Mas não era coisa para me ocupar mais do que 5 minutos de pensamento. 

Depois, aconteceu que... a minha avó. A minha avó é uma das pessoas mais católicas e cheia de ideias (erradamente) antiquíssimas que eu conheço. E num belo dia de chuva, entre conversas com direito a bolachas, chá e uma mantinha, ela questiona-me: Então, filha? Quando é que me apresentas o borracho? E é claro que lhe achei piada. Porque é a minha avó. E quem a conhece, sabe que isto dito por ela tem uma dose de seriedade e de piada um tanto ao quanto equivalentes. E respondi-lhe, muito serenamente: Quando houver borracho, prometo que serás a primeira a saber. 

Mas ela não se contentou. E insistiu na ideia de que eu deveria ter um namorado, como isso fosse tão essencial como tirar um curso ou ter objetivos para a vida, entendem? E eu fiquei realmente aborrecida. Não com ela, mas a pensar no grupo de pessoas que, por vezes, pensa da mesma forma. Porque a verdade é que eu sou eu sem mais ninguém que, idealmente, me completaria. Tu, que estás a ler isto, e sendo solteira/o ou não, já és tu há muito tempo, certamente terás objetivos futuros e opiniões muito convictas acerca dos mais diversos temas, que não dependem nem nunca vão depender, em rigorosamente nada, de uma outra pessoa. 

As pessoas têm que entender, de uma vez por todas, que "ter um par" não é requisito, nem tão pouco diz muito sobre a pessoa em si (relembro uma das minhas citações preferidas You are what you love, not who loves you). E esta mentalidade fora de prazo de que toda a gente vai encontrar a sua alma gémea e será feliz para sempre, por muito motivadora que seja, tem que ser posta de parte mais vezes. 

A verdade, na minha opinião, é que nem todos temos um correspondente ideal e, caso o tenhamos, não é certo que ele vá - como que num filme de comédia romântica - espetar-se contra nós numa avenida e ... bam ... amor à primeira vista. Sinto que ainda existem pessoas que têm dificuldade em perceber que a história da vida amorosa dos jovens contemporâneos mudou. Nem todos pensamos em casar, ter filhos, assentar. E, além disto, convém ter-se em conta que, felizmente, ainda existem pessoas  (como eu!) convictas de que, para que esta tripla de facto aconteça, é necessário ter-se um namorado/marido que nós próprias escolhemos e aceitamos, e que seja de alguma forma, um reflexo daquilo que procuramos de bom e verdadeiro nas pessoas e não simplesmente um "parceiro". Eu espero sinceramente que, hoje em dia, já ninguém namore ou se case só porque sim. É-me realmente doloroso pensar que isso aconteça. 



E, por isso, a pergunta que vos faço é: 

Será que perdemos o direito de dizer NÃO? E com isto incluo os...

Não, (ainda) estou solteira.
Não, não acho que esteja preparada para amar.
Não, não quero continuar esta relação.
Não, não te vou dar o meu número.
Não, não quero casar-me.
Não, não quero ter filhos.

Num mundo em que o feminismo (aparentemente) lidera e é publicamente compreendido e apoiado por um grande número de pessoas, serão estes Não assim tão dificeis de aceitar?

Comentários

  1. Compreendo-te perfeitamente. Apesar de namorar já à uns bons 3 anos, e querer casar, e querer ter filhos, percebo a tua parte. A sociedade exige demasiado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu própria gostaria de casar e ter filhos. O que eu não concordo é que se faça disso requisito "standard" para todas as mulheres/homens e que sendo assim, ainda se julgue quem não tem esses projetos de vida em mente.

      Eliminar
  2. Mesmo que as mentalidades tenham vindo a mudar, a verdade é que a procura e a necessidade de um par ainda existe para muita gente, não só pelas próprias pessoas mas em parte, pela pressão que a sociedade provoca nelas.
    Acho que todos nós devemos ter a oportunidade de amar e ser amados, no entanto não somos nós que escolhemos o dia e a hora. Seremos solteiras pelo tempo que nos estiver destinado

    ResponderEliminar
  3. Ora aqui está uma publicação (mais uma) fantástica, Inês. Concordo com tudo o que aqui disseste. Eu, agora com dezanove, não tenho qualquer paciência para as exigências ou expectativas das pessoas ao meu redor, que se preocupam mais do que eu neste tipo de assuntos (relacionamentos e afins). E sim, nós temos o direito de dizer não. E todos deveríamos usufruir dele, sem medos.

    ResponderEliminar
  4. Como te percebo, penso tantas vezes nisto!

    ResponderEliminar
  5. Nunca me identifiquei tanto com uma publicação tua, como esta! Neste momento namoro, sim, mas a verdade é que mesmo namorando já à 1 ano e pouco, não tenho, nem nunca tive a vontade de querer casar ou ter filhos! Simplesmente nunca tive isso como um objetivo, e por muito que goste de crianças não é um plano para mim... E acredita que sempre que comento isto em voz alta, sinto uns certos olhares de lado, como se fosse algum pecado não ter os mesmo objetivos que todos! Existem vezes que não se ficam por olhares mas até mesmo comentam a contrariar-me como se fosse um erro gigante! Não compreendo, porque é que as pessoas, especialmente hoje em dia, supostamenta pertencendo nós a uma sociedade tão "desenvolvida" ainda existir esta ideia tão retrógrada, a meu ver!

    ResponderEliminar
  6. compreendo-te perfeitamente...
    faço 19 este ano e não namoro. Tal como tu, familiares perguntam-me quando lhes vou apresentar o "gajo" e cada vez que sorrio para o telemóvel se estou a falar com ELE quando na grande maioria das vezes foi uma amiga minha que disse uma coisa estúpida. Penso que existe aquela teoria que só somos realmente felizes quando temos alguém para amar e isso muitas vezes não é verdade.
    Sou solteira, feliz, e então?

    Gosto muito do blog e adorei este post!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  7. *clap clap clap*

    Antes de começar a namorar, não andava à procura de ninguém, nem tinha a necessidade de ter alguém ao meu lado. Conheci o meu ex-namorado e lá demos uma oportunidade à relação. Eu gostava dele (se calhar, ainda gosto - ainda não pensei bem sobre o assunto), mas não fiquei com o coração partidinho, quando a coisa acabou, porque sempre achei que, primeiro, estou eu, depois está uma relação e, se a coisa der para o torto, é importante que eu saiba estar comigo e reagir a isso de uma maneira saudável, porque eu não preciso de ninguém para estar bem. Se estaria melhor com alguém? Até podia estar. Não sei e não me apetece descobrir, ainda. Mas estou bem assim e isso é que é importante.

    Mas o que dizes é tão real, que eu nem partilhei com a família que não vive na minha casa (ou seja, tias, primas, whatever), porque iriam logo achar um fim do mundo e não é assim que vejo as coisas, nem tenho paciência para quem as vê assim.

    Nós temos de ser independentes. E, quando estamos com alguém, tem de ser porque queremos e não porque é preciso ou necessário. Acho que só assim é realmente bonito.
    Por isso, direi "não" as vezes que bem entender. E gosto de saber que também és assim. :)

    ResponderEliminar
  8. Este texto está incrível! Tal como tu, eu também adorava casar e ter filhos. No entanto, e também tal como tu, não o quero fazer só porque sim. E, por isso, para mim é legítimo não o fazer, se assim não fizer sentido... A vida dá muitas voltas...
    Beijinho*

    ResponderEliminar
  9. Segundo a nossa sociedade há uma ordem obrigatória de coisas que têm de acontecer: ires para a faculdade - namorar - arranjar trabalho - casar - ter filhos. Tudo o que saia um bocado disso causa logo comichão.
    Eu tive sorte e encontrei a minha alma gémea cedo na vida (aos 20 anos), mas foi mesmo uma questão de estar no sítio certo à hora certa, faz-me imensa impressão miúdas nos seus 20 e poucos a dizerem que estão condenadas a ser tias quando eu sei que é 95% sorte.
    Por outro lado conheço uma rapariga 2 anos mais velha que eu, que está a dar cartas na carreira profissional dela e a crescer imenso e os velhotes parecem ignorar tudo isso porque o que interessa é ela arranjar marido.
    E nem vou falar da guerra que é quando alguma mulher se atreve a dizer que não faz questão de ter filhos...
    Excelente post Inês, beijinhos!

    ResponderEliminar
  10. Inês, primeiro que tudo muitos parabéns pelo texto e pela belíssima opinião. Somos livres de opiniões e escolhas. É preciso respeitar e perceber que não somos todos iguais. Sei que aos olhos dos mais velhos tudo que seja diferente causa comichão. Fui muitas vezes bombardeada com a questão dos "rapazinhos" até que encontrei uma pessoa fantástica. No entanto, sei que depois da questão do namorado vão surgirem outras. Enfim, como se tudo tivesse uma ordem cronológica.
    Beijinho

    ResponderEliminar
  11. As cobranças nunca vão parar. E tu por seres mulher vais ter mais cobranças ainda. Quando não tens ninguém as questões são essas, quando tens alguém e idade que a sociedade acha adequada as perguntas passam a ser "e casamento?" "e filhos?" depois quando tens filhos são os bitaites de como os criares.
    Porque, nós mulheres, não passamos de uma desmioladas que precisam de orientação para viver. Enfim...

    ResponderEliminar
  12. Concordo plenamente contigo! Existe uma pressão por parte da sociedade para arranjarmos alguém, como se não fosse aceitável estar "sozinha", não ter uma "cara metade" a partir de uma certa idade. No meu caso, só casei porque era isso que queria, e o meu marido foi o meu primeiro namorado. Antes de o conhecer, também sentia essa pressão de ter que arranjar alguém depressa, mas ignorei. Acho que o mais importante de tudo é estar com alguém que realmente seja a pessoa certa, e essa pessoa pode demorar a aparecer. Não temos de namorar/casar com alguém ou ter filhos só porque certas pessoas acham que é a coisa certa a fazer. A nossa felicidade não deve ser condicionada pela opinião de terceiros.

    Beijinhos
    miya--world.blogspot.com.br

    ResponderEliminar
  13. Este post fez-me sorrir muito! Ok, por vezes fico triste por não ter namorado e ver todos à minha volta com um/a, mas depois lembro-me que sou o que quero ser (pelo menos interiormente).
    "...certamente terás objetivos futuros e opiniões muito convictas acerca dos mais diversos temas, que não dependem nem nunca vão depender, em rigorosamente nada, de uma outra pessoa." Esta tua frase é tão verdade! Eu vejo imensos casais que mudam de opinião sobre algo quando começam a namorar e acho isso das coisas mais tristes do mundo. Eu não quero ninguém para mudar o que sou, eu quero alguém que goste de mim pelo que sou e, honestamente, sendo jovem vejo imensos jovens a dependerem de alguém só porque sim. E isso é tão tão triste.
    Mas fico feliz que ainda haja pessoas como tu e como o pessoal aí acima que também não quer um namorado "só porque sim"

    ResponderEliminar
  14. Mereces uma grande salva de palmas, Inês!
    É triste essa "pressão" constante pela parte da família e amigos, porque, quando é em demasia, chateia e bastante!
    Tu és tu, com namorado/a, ou sem ele/a!
    Beijinhos :)
    http://those-colorful-words.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  15. Fizemos agora há pouco tempo uma publicação que fala também sobre o não. Esta sociedade "impõe-nos" com cada coisa... Mas é claro que temos o direito ao não, tal como ao sim!!!

    ResponderEliminar
  16. Inês! O que interessa é sentires-te bem contigo mesma :) o resto é secundário! Interessa estares bem e sentires-te bem acima de tudo. O resto há de vir quando menos esperares :))

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

YOU are here. Thanks for that.

Mensagens populares