Inspiração IGUAL a distração

Em tempos, preferia defini-la como a atenção mínima que damos às coisas dos outros. A música dos outros, os textos dos outros, as vivências dos outros,... Mas hoje escolho vê-la como uma distração. E passo a explicar-vos porquê.

O mundo tem uma fatia maquiavélica. Não é difícil percebê-lo. E essa fatia vem estampada nas aberturas dos telejornais, nos pobres comentários deixados nas redes sociais de pessoas bem sucedidas, na frustrada cara de quem não partilha das nossas mini felicidades, nos corredores sofredores dos hospitais e, se andarmos de olhos bem abertos e sinceros, vemos essa fatia estampada em nós, de quando em vez. Porque há dias em que, no fundo, somos apenas o reflexo do que o mundo nos dá. Como se de espelho nos tratássemos e a maldade virasse luz.

E é por podermos escolher distrairmo-nos do telejornal, dos comentários pobres, dos olhares frustrados, do sofrimento alheio e do nosso, que adotamos uma palavra, eu diria uma maneira de ver a vida sob um ponto de vista mais feliz: inspiração. Lembro-me do que surgiu no meu pensamento na primeira vez que a ouvi: "É isto! É mesmo isto que eu queria chamar àquilo que sinto quando vejo algo de bom, que me pode ajudar a ser melhor, a viver melhor, a distrair-me melhor ... do caos." E por muito simplista que possa pareça eu estar para aqui a escrever-vos isto tudo só para fazer uma mera comparação entre conceitos, a verdade é que isto foi algo que me fez refletir à séria sobre as nossas fontes de felicidade, sobre as nossas vontades internas nos últimos dias. 


"I don’t think we did go blind, I think we are blind, blind but seeing, blind people who can see, but do not see."
José Saramago, Blindness


É incrível como temos mecanismos de defesa um tanto poéticos, diria eu, para fugir à tristeza dos dias, à fatia má do mundo. E a criatividade surge na minha vida (e na vossa, prevejo eu) como uma grande vontade de responder com amor, brilho e cor às energias abaixo do zero que nos circundam. 


"Life destroys. Art preserves."

Matt Zoller Seitz


Coisas que defino como energias abaixo do zero: insegurança, ansiedade e medo. São elas que nos bloqueiam. São as únicas três razões pelas quais não devemos ter um coração a palpitar. 



"Life, he says, doesn’t have to be so bad all the time. We don’t have to be anxious about everything. We can just be. We can get up, anticipate that the day will probably have a few good moments and a few bad ones, and then just deal with it. Take it all in and deal as best we can."

John Corey Whaley, Where Things Come Back


Há algo de muito belo na forma como cada um é. Nas relações, achamo-nos muitas vezes decifráveis aos olhos dos outros, mas a verdade é que cada um de nós é um mundinho especial, com pensamentos, dúvidas e paixões diferentes elevadas a 1000. 


"I didn’t know why I was going to cry, but I knew that if anybody spoke to me or looked too closely the tears would fly out of my eyes and the sobs would fly out of my throat and I’d cry for a week."
Sylvia Plath, The Bell Jar

O segredo está todo aqui. Nas particularidades de cada átomo nosso. E eu gosto de pensar em nós assim: átomos envoltos em energia. Sempre em busca do emparelhamento. Já repararam como não conseguimos ser sós? Precisamos das distrações/inspirações. Porque "viver" o mundo como ele é sem esses apêndices reconfortantes, é não vivê-lo sequer.

Comentários

  1. Adorei o texto ^_^ concordo com tudo o que disseste.

    R: Ohhh obrigada ^_^ gosto de tentar transmitir um pouco da minha paixão pelos animais para a blogosfera. O teu comentário significa muito para mim ^_^

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  2. Ó Inês! Que inspirador. Fiquei deliciada com a tua explicação da distinção que fazes. Obrigada por este momento tão belo <3

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  3. Não posso fazer mais nada senão elogiar as tuas palavras, que tão harmoniosamente se juntaram num lindo, e tão realista, texto. Adorei, de verdade!
    Beijinhos

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    Respostas
    1. Obrigada, Inês :) Essas palavras sinceras deixam-me feliz!

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  4. Muito bom texto!
    Beijinhos :)
    http://dailyvlife.blogspot.com/

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  5. Que texto maravilhoso! Tão bem escrito, tão inspirador..palavras leves mas fortes, ao mesmo tempo e uma mensagem absoluta, que deveria ser lida, relida, passada e repassada por essa blogosfera fora! Parabéns, Inês, pelo teu bom trabalho aqui no She Was Here! E obrigada por me continuares a inspirar :)

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  6. Muito obrigada. Deixa-me de queixo caído que alguém fique de queixo caído por aquilo que escrevo. Um grande beijo!

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  7. Gostei tanto deste teu texto, Inês! E como estava a precisar disto...de me inspirar, ou direi distrair? :)

    Jiji

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